Artesão de Patos de Minas transforma perda de visão em inspiração através da arte
Escultor não deixou que a escuridão apagasse a luz interior que habita nele

Zulmar Antônio, de 70 anos, carrega consigo uma história marcada pela fé, superação e pelo poder da arte. Diagnosticado com retinose pigmentar, doença que compromete a visão de forma progressiva, ele perdeu a capacidade de enxergar há cerca de 15 anos.
Embora os olhos de Zulmar já não alcancem mais a forma da madeira, as mãos dele se tornaram um verdadeiro instrumento de visão. Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, o escultor não deixou que a escuridão apagasse a luz interior que habita nele.
“Eu comecei a fazer as esculturas através de outras esculturas antigas que eu encontrava pela fazenda, aí eu descobri o dom de reproduzir e começou a ter procura e a ser vendido para galerias”, contou o marceneiro.
Oração materializada
Devoto de São Francisco de Assis, conhecido pela humildade e amor à natureza, Zulmar dedica grande parte das obras à figura do padroeiro. Com precisão, ele molda a madeira e dá vida a peças que carregam não apenas formas, mas sentimentos e espiritualidade.
“Eu tenho retratado muito as passagens de Francisco. Há cinco anos, eu tenho pouco serviço, a não ser que tenha ligação com São Francisco”, disse Zulmar.
Casado e pai de três filhos, o artista vive cercado pela paixão que o move: a escultura. Para ele, cada peça é mais que um trabalho manual, é uma oração materializada e um gesto de fé que atravessa o tempo. Mesmo após perder a visão, Zulmar nunca abandonou a arte.
“Eu posso chegar em qualquer marcenaria, me identificar com os instrumentos e fazer o serviço como qualquer outro marceneiro. Apesar de tudo, eu sou muito feliz e tenho paz no coração”, destacou o escultor.
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